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verte vento

  • Writer: Amanda Talhari
    Amanda Talhari
  • Apr 6
  • 1 min read

Tem algo de dentro-fora que verte, que vem pra pele como gotículas de água ou um arrepio. Às vezes como um rio saindo do peito. Um entendimento dos tecidos e das forças que me compõem, que compõem o mundo. Algo que quando transborda faz meu nariz formigar e meu olho aguar. Me dá vontade de sorrir sozinha, levantar o queixo, espalmar mãos e pés no chão. Esse verter me coloca em contato de tal forma que sinto simultaneamente o corpo voando, mergulhado na água e firme na areia. Esse verter é um entendimento ascendente e transversal que vem como uma ventania, um golpe de vento. 


O vento me mobiliza muito. Curioso que meu ouvido dói muito quando fico no vento, por conta de uma sequela de otites na primeira infância. Então protejo as orelhas… e vou pra ventania. Ela me pede silêncio, me pede escrita, me pede presença, me pede ao mesmo tempo que seja veículo (para que passe através de mim) e que seja matéria (que deixe também partículas no ar). Como que separa o líquen do tronco, ou o vento das folhas? E porquê separar? Me limpo de mim, enquanto emito algum tipo de perfume suave que reconheço enquanto se mistura aos outros cheiros do mundo. 


Com se fala do que nem tem palavra ainda? Penso com as mãos, penso com a pele, o peito, os olhos e a ponta do nariz. Penso com o contato. Penso com os elementos. Me ocorre que verte, além de sugerir uma água que nasce e vaza, em espanhol é “te ver”. Brotar-enxergar. Uma coisa também é outras.

 
 
 

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