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reboco

  • Writer: Amanda Talhari
    Amanda Talhari
  • Dec 9, 2024
  • 2 min read

Updated: May 16

A vida pede coisas, e a gente vê o que faz com isso, né?


Estive morando numa casa que avisou que precisava de cuidados. Eu vi. Avisei a imobiliária, a proprietária, os prestadores de serviço que vieram e foram sem endereçar nada. Estancavam somente quando vertia (muita) água pra dentro, mas nunca cuidaram das infiltrações. Uma vez apontei um local com mancha de umidade e mofo, e o prestador pegou um pincel e passou tinta branca em cima. Entendi a abordagem, e entendi que não me servia. 


Fui tentar aprender sobre essas patologias (é o nome, incrivelmente), como cuidar dos dano e como prevenir que acontecessem. Como a prevenção seria quebrar tudo pra impermeabilizar a fundação e recolocar as janelas eu podia só cuidar dos danos, mesmo. Nem é o que me cabia, mas é o que podia. Ensaiei, relutei, fiquei na dúvida se dava conta, mas fui.


Por semanas fui descascando paredes estouradas, tirando o cimento esfarelando, tratando com veda-trinca, preenchendo com argamassa e massa acrílica, respeitando os tempos de secagem, lixando e pintando - no contraturno, no horário do almoço, noites e feriados. 

Aí, enquanto preparava argamassa num pote de sorvete, fiquei pensando sobre essa escolha. Pessoas me falaram pra esperar o proprietário se responsabilizar ou até pra pintar por cima na hora de devolver o imóvel… Mas pra mim não tinha cabimento “passar uma tinta” numa parede que tá se desintegrando. Assim como um sal de fruta não resolve uma úlcera, e um remédio pra dormir não resolve o peso do mundo nas costas. Ao mesmo tempo, são paliativos recorrentes. E por isso me ocorreu que a disposição pra mão na massa da obra é como a disposição pra análise.


Uma vontade de olhar para a questão, de verdade, e fazer algo com isso. Limpar onde alguns querem disfarçar. Cavocar (com cuidado) onde a coisa tá se desfazendo e, passo a passo, ir cuidandore-criando. A infiltração que não se viu (ouviu e quis esquecer) faz mais estrago. Mas, atenção! Não é sair quebrando tudo, expondo sem cuidado, machucando parede íntegra, tacando massa mal preparada em buraco úmido. Isso é descuido, e é perigoso. Tampouco é sobre querer refazer a construção, a história, a estrutura toda. Isso é fantasia (e ainda que bem intencionada também pode ser perigosa).


Diferente disso, a disposição pra obra/análise é um desejo genuíno de cuidar do que é preciso, sem desviar o olhar. Descansando e deixando descansar, sem fazer corpo mole. Respeitando o que a parede pede e aguenta. E fazer isso sempre que necessário. 

Os registros da saga amadora de quem e fez o que pôde (sorrindo com os potes e espátulas), e virou melhor amiga das instruções dos fabricantes e dos pedreiros do youtube:


 
 
 

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 2023 • Textos, ilustrações e diagramação de Amanda Talhari

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