pulo no mar
- Amanda Talhari
- Nov 5, 2024
- 2 min read
Tô dando um pulo num mar.
Amo o mar, sinto ele no peito, me sinto em casa ao seu lado, mas não é sempre que quero entrar. Tem algo da prudência. Respeito 'fundeza', correnteza, temperatura. Tenho amor e temor, como me parece que se deve ter ao considerar a força do outro. Não é qualquer coisa, não é pra entrar sem prestar atenção, não é pra ter como dado o que o outro oferece. Um amor não se dá por ganho, nem se faz de capacho.
E não é que eu espere as condições perfeitas pra mergulhar, como um dia de sol de rachar, ou a água calminha… não é da ordem do ideal meu critério, é mais da ordem do desejo.
Tenho medo da brabeza da água, do que ela pode oferecer ou tirar, daquilo invisível e incerto - se é praia de tombo, se tem pedras e pontas (já me furei entrando na água, já fiquei sem dar pé). Mas o medo se aquieta com a avaliação das condições, e aí resta o frio na barriga. Preciso sentir no corpo pra saber se dou conta. Quando sinto de me jogar, vou correndo em direção à água gelada. Sou escandalosa, entro pulando, gritando, rindo, chorando, xingando - e agradecendo.
Depois de alguns minutos dentro d'água, com a carne acostumando, os pés conhecendo melhor onde pisam, a pele fazendo carinho no mar, os olhos que não se cansam de beber os azuis-verdes-cinzas… aí é presença silenciosa. É um agradecimento com cada célula, cada memória. O rosto formiga (os afetos sinto na ponta do nariz). Dou risada baixinho, falo sussurrando, sorrio tranquila.
Estou entendendo que esse modo, para mim, não se restringe ao mar… mas permeia os mergulhos cheios de desejo.







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