felino em grade
- Amanda Talhari
- Sep 29, 2023
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Sinto uns sentimentos sem nome.
Sentimentos íntegros e consequentes.
Que têm unhas e dentes.
Que têm a paciência do mar e do vento, que vêm de pouco e sem surpresa, que avisa na maré e na nuvem: mas não tem pena de quem constrói seu castelo na areia. Se surpreende quem não presta atenção. Sinto onda, não só a que quebra na pedra e espuma e espirra, mas a que vem baixinha e com força - derrubando tudo o que não tá firme ou fincado onde não faz sentido.
Ando às voltas com sensações indômitas, de corpos em movimento, peitos abertos e costas arqueadas, de pernas dobradas e que saltam, de pés descalços, de olhos entre cabelos folhas, de queixo pro céu.
Ando às voltas como um felino em grade, interessada em abrir. Ando com rugido e ronronar. Com a mesma língua que tomo banho eu faço carinho e arranco a carne dos ossos. Ando com vontades e fomes perfeitamente saciáveis (a cada vez), desinteressada na minha conformidade impotente, na manutenção do mesmo, no de-novo-isso-porque-me-assusta-aquilo, no de-novo-isso-porque-não-posso-nada-distinto.
Sinto neste osso duro e poroso, nessa carne densa e flexível, nessa pele barreira e passagem, que posso mais. Posso diferente. Posso. Não sobre o outro, mas em mim. Posso e quero mais em mim. E assim ando com sentimentos de grito, silêncio e riso.
De corte, de morte e de nascimento.












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