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essencial inútil

  • Writer: Amanda Talhari
    Amanda Talhari
  • Aug 3, 2023
  • 2 min read

Updated: Nov 27, 2023

Hoje no grupo de Criatividade Cafetinada conversamos sobre tempo. E claro, falamos sobre arte. Uma dessas questões que se apresentou é o quanto a arte não é colocada pela nossa cultura como essencial, como ela parece ter algum “reconhecimento” apenas quando tem alguma “utilidade”. Longe de mim citar o pequeno príncipe, dizendo que “o essencial é invisível aos olhos”, mas fiquei pensando em que olhos são esses que estamos usando pra avaliar o que importa.

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​​Porque é claro que a arte não vai ser colocada pela nossa cultura como algo essencial. Não há tempo concedido a ela. Ela é inútil (ainda bem!) no sentido de não serve a ninguém, não se sujeita, não é da ordem da utilidade. Pelo contrário. Desorganiza, re-prioriza, desloca, bagunça, mexe com a gente, atrapalha nossa produtividade compulsória, nos atravessa, e faz questionar o que tá dado. Assim como a análise.


O ponto é: não cabe ao outro (o mundo, a cultura, nossas famílias, as instituições) conferir ou suspender esse status de essencial da arte. Pode até tentar (e tenta mesmo...). Mas a arte como exercício é essencial antes mesmo de qualquer título. Ela se apresenta sem concessão. Isso em todo idioma, em todo milênio, em todas as experiências de fala/escrita/imagem/movimento do corpo/som.

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​​Poderia dizer de uma altura de consumo “se não é essencial tente viver então sem series, filmes, música”, que já seria impossível.


Mas indo além, tente viver sem arte nos olhos: sem sentir a poesia de um momento, a beleza de uma relação, o tsunami de um texto, o flutuar de uma música, o deslocamento da ficção. Sem essa vazão da própria força, sem se permitir habitar o fundo do mar ao pintar, os vagalumes de uma dança, os fogos de artifício ao degustar, o vento de uma canção.


Ainda que não sirva a ninguém, ainda que não tenha esse “reconhecimento” e esse status, é possível mesmo abrir mão disso tão íntimo, tão singular, tão extrapessoal? E como poderia caber a quaisquer outros olhos avaliar o que é essencial para o meu (seu, nosso) coração?



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 2023 • Textos, ilustrações e diagramação de Amanda Talhari

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