cafetinagem da potência
- Amanda Talhari
- Apr 10, 2023
- 2 min read
Updated: Nov 27, 2023
Na área de comunicação aprendemos a criar posicionamentos de marca para “diferenciar” sua marca das outras. Partindo de um estudo de mercado pra encontrar “espaços ainda não-ocupados”, e inspirações (benchmarks) para copiar. Se encaixar e ao mesmo tempo se destacar, em última instância para ser desejado. Paradoxal. Criar algo “novo” que silencie necessidades conscientes e inconscientes do consumidor, como uma grande chupeta.
Acho que essa mesma lógica muitas vezes é aplicada à subjetividade, num discurso que esmaga qualquer sinal de diferença. A cafetinagem da potência, para usar palavras da Suely Rolnik.
Isso sempre me incomodou, mas quinze anos atrás não sabia que tinha nome. Muito menos que existiam saídas… Fiquei “de mal” com a área de Comunicação, que via como sintoma e agente desse rolo compressor.
Mas sentia uma pista, um brotinho, que ficava ecoando em mim: me interessava olhar pra dentro, e não pra fora. Encontrar perspectiva distinta, e descobrir que geralmente há espaço para entender o que há alí, de verdade. Algo que pode ser trazido à tona se tirarmos o entulho de cima. O que tem força pra atravessar, e o que é apenas reprodução do que se acha que se espera, ou se acha que “tem que”?
No discurso de "diferenciais", de enquadramento mercadológico e de ideais pra alcançar colocamos nossos projetos e nossas subjetividades num lugar inerte, impotente, de mercadoria. Desconsideramos a força de ser quem somos, muitas vezes nos escondendo por trás dos discursos de necessidade ou de performance.
No estúdio, na clínica, na vida, me parece que boa parte do (suado e delicioso) trabalho é abrir espaço pra escutar e devolver pistas dessa força. O restante do trabalho é a rega diária e adubo periódico pra sustentar a vida que nasce e renasce.






Comments